segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Porca de bobes


Foto: Evilangela Lima
Amigos peço licença
Desejo toda atenção,
Pois irei narrar um fato
Que envolve até maldição.
Farei o leitor ciente:
Filho desobediente,
Não ganhará salvação.

E suplico a juventude 
Procurem gestos decentes,
Respeite sempre seus pais
Sejam bem obedientes,
Cada qual vá numa igreja
E aonde quer que esteja;
Busque Deus, seja temente.

E preste muita atenção
Na história que vou contar,
Sei que não é novidade
Você já ouviu falar,
De uma moça prepotente
Muito desobediente
Que fazia a mãe chorar.

Bebia muito e dançava
Sempre com má companhia,
Respondona e malcriada
Só fazia o que queria,
Conselho não escutava
E quando a mãe reclamava,
Ela xingava e batia.

Chamava-se Chica Porca,
Mas parecia perua,
Os beiços da cor de brasa
E as blusas de costas nua;
Dizem que entre os seus hobbies,
Enchia a cuca de bobes
Passava a noite na rua.

Sua mãe sofrida e triste
Deixou de lhe abençoar,
A moça ficou danada
Procurando piorar,
Quem não é abençoada
Termina amaldiçoada,
Sem direito a revogar.

Daquele tempo em diante
Surgiu a perturbação,
De um suíno bem medonho
Causando ali assombração,
Caboclo despreparado
Chegava em casa borrado;
Rastejando pelo chão.

Nas noites de sexta-feira
Tinha mais perturbação,
Na ponte da Antônio Maia
Tinha sempre aparição,
De uma porca roncando
Quem via corria gritando
Tão feia era a arrumação.

Um dizia: — É uma porca.
Outro dizia: — É mulher!
Certo é que, quem via aquilo
Na hora dava no pé;
E com tanta falação
Dizem que até valentão
Que viu virou Zé Mané.

E por toda a redondeza
Lá da Velha Marabá;
E era em caminho estreito
Que ela ia atazanar,
Surgia bem de repente,
Hora porca e depois gente
Uma bichona a roncar.

Cabra bom namorador
Do setor “Canela fina”,
Também ficava acuado
Saia quebrando esquina,
Pelos caminhos estreitos
Dizem que muitos sujeitos,
Lamentavam-se da sina.

Até que num certo dia
Um bêbado bem desastrado,
Vindo do Canela Fina
Alegre e bem turbinado,
Armou-se com um facão
Fez onda de valentão;
Todo eufórico e afobado.

Disse: — Hoje pego o bicho
Seja ele o que quiser,
Mas esse troço nojento
Não é homem, nem mulher.
Esse bicho é o capeta,
Acabo a sua mutreta;
Somente no ponta a pé.

Esperou, ela passar,
Em frente ao Zinho Oliveira,
Ficou desequilibrado
Danou-se na suadeira,
Que quando viu a marmota
De medo quase capota
Tamanha era a tremedeira.

Xingava e falava só,
Cai aqui, cai acolá,
Empunhou logo o facão;
E tentou se equilibrar.
Mirou e desceu o aço
Por cima do espinhaço,
Sem ter medo de errar.

Daquele dia em diante
A paz voltou a reinar,
A porca dali sumiu
E ninguém quis mais falar.
O bêbado se pabulava,
Mas ninguém acreditava;
Ele tinha que se calar.

Mas a tal de Chica Porca
Dali desapareceu,
É até mesmo quem foi besta
O caso compreendeu,
Que a porca foi atingida
Após ter sido ferida,
Dali ela se escafedeu.

Nada disso era segredo,
De Chica ser malcriada
Nunca respeitou a mãe
E vivia de balada,
Daí veio explicação;
Que a maldita assombração
Tinha sido revelada.

Dizem que após muitos anos
Chica Porca apareceu,
Bem feia e desconfiada
E o povo a reconheceu,
Pois nas costas da infeliz,
Tinha enorme cicatriz,
O que tudo esclareceu.

Porca de bobes é lenda
Ninguém pode contestar
Já faz parte das histórias
Do folclore Marabá.
Agradeço pela atenção
E digo: a minha intenção
Foi só de cordelizar.



Lusa Silva 
Agosto de 2018.
Texto publicado na I Antologia: "Os cordéis do Norte". 
Organizada pela APLC/ APLC ACADEMIA PARAENSE DE LITERATURA DE CORDEL 
E suplico a juventude

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